Precisamos falar sobre SUICÍDIO
- psicologacamilacesar
- Sep 10, 2021
- 5 min read
Updated: Aug 27, 2022
Quando o desejo de morrer não encontra barreiras

Grandes números relacionados à morte por suicídio colocam o ato como um problema de saúde pública, sendo que cerca de 90% dos casos poderiam ser evitados. Diante disso, estudos mostram que a melhor forma de enfrentar este problema mundial é falando sobre o assunto.
Para falarmos sobre este preocupante fato, é importante trazer ao conhecimento os termos relacionados abaixo:
- Suicídio: é a morte causada por comportamento danoso autoinfligido com qualquer intenção de morrer como resultado desse comportamento;
- Tentativa de suicídio: é o comportamento não fatal, autoinflingido, potencialmente danoso, com intenção de morrer como seu resultado. (Observação: Uma tentativa de suicídio pode resultar ou não em um ferimento);
- Ideação suicida: qualquer pensamento, imagem, crença, voz ou outras cognições relatadas pelo indivíduo sobre terminar intencionalmente com a própria vida.
O suicídio é um ato de autodestruição, uma escolha que envolve muitas implicações sociais. A ideação suicida apresenta-se como uma fuga para um problema ao qual o indivíduo em sofrimento supõe que não existe outra saída. Tanto a ideação suicida quanto o ato em si podem acontecer em indivíduos de todas as idades e classes sociais.
Aumentar a conscientização sobre a prevenção do suicídio, ampliar o conhecimento sobre os fatores de risco e abordagens de apoio se tornou extremamente necessário e, para isso, foram criadas importantes campanhas internacionais.
Desde 2003, acontece o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, que é um dia de conscientização agendado anualmente para 10 de setembro, a fim de promover ações mundiais para evitar suicídios, com diversas atividades em todo o mundo. A Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio colabora com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Federação Mundial para Saúde Mental para sediar o evento.
No Brasil, influenciado pelo Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), organiza nacionalmente o Setembro Amarelo.
O motivo
Algumas motivações comumente relacionadas ao ato de tirar a própria vida são:
Pressões externas (cobranças sociais, por exemplo);
Culpa ou remorso;
Fracasso;
Humilhação;
Dificuldade em lidar com o luto;
Doenças degenerativas ou incuráveis.
Frequentemente, nos relatos de um indivíduo em sofrimento e que está apresentando ideias suicidas são percebidas expressões como “vontade de desaparecer”, “quero sumir daqui e ir para um lugar melhor”, “se eu morrer acabará esse tormento”, “só assim terei paz e descanso”, dentre outras.
O impulso de autodestruição é uma reação percebida nas pessoas que estão esgotadas emocionalmente e que se sentem extremamente fragilizadas.
De acordo com dados da OMS, no mundo, mais de 800 mil pessoas cometem suicídio por ano. O que leva ao alarmante cálculo de um suicídio a cada 40 segundos.
O suicídio na cultura
O suicídio é um fato presente na história da humanidade e, portanto, sempre foi abordado na cultura em geral, podendo ser visto na literatura, no cinema e na música. Muito conhecida no Brasil e mais fortemente difundida nas décadas de 1990 e 2000, a música “Pais e Filhos”, da banda Legião Urbana, aborda o assunto de forma bem delineada.
“Estátuas e cofres
E paredes pintadas
Ninguém sabe o que aconteceu
Ela se jogou da janela do quinto andar
Nada é fácil de entender.
Dorme agora:
É só o vento lá fora.
Quero colo
Vou fugir de casa
Posso dormir aqui com vocês?
Estou com medo
Tive um pesadelo
Só vou voltar depois das três.
Meu filho vai ter nome de santo
Quero o nome mais bonito.
É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã
Porque se você parar para pensar, na verdade não há.
Me diz por que é que o céu é azul
Me explica a grande fúria do mundo
São meus filhos que tomam conta de mim.
Eu moro com a minha mãe mas meu pai vem me visitar
Eu moro na rua, não tenho ninguém
Em moro em qualquer lugar
Já morei em tanta casa que nem me lembro mais
Eu moro com meus pais.
É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã
Porque se você parar para pensar, na verdade não há.
Sou uma gota d’água
Sou um grão de areia
Você me diz que seus pais não lhe entendem
Mas você não entende seus pais.
Você culpa seus pais por tudo
E isso é absurdo
São crianças como você.
O que você vai ser
Quando você crescer?”
(Música “Pais e Filhos” – Álbum Quatro Estações – Banda Legião Urbana)
A música descreve o suicídio de uma jovem em conflito emocional, mostra suas indagações sobre a relação consigo mesma e com o outro, sobre seus medos e sua fragilidade diante do sofrimento e falta de esperança.
Em geral, os suicídios são premeditados e a pessoa dá sinais de suas intenções. Reconhecer esses sinais e oferecer apoio pode mudar completamente o rumo da história.
Segundo a OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde), em 2019, 97.339 pessoas morreram por suicídio na Região das Américas e estima-se que as tentativas de suicídio foram 20 vezes maior que esse número.
Mitos e Verdades
Alguns mitos e preconceitos permeiam esse assunto e é extremamente importante esclarecê-los.
Mito: a expressão de ideias suicidas são chantagem emocional / Verdade: a pessoa está expressando o que está sentindo e como está lidando com este sentimento.
Mito: a pessoa que pretende se matar não avisa / Verdade: a pessoa está pedindo socorro, pois não está enxergando outra saída.
Mito: pessoas que falam sobre suicídio só querem chamar a atenção para si / Verdade: pessoas que falam sobre suicídio estão em sofrimento extremo.
Mito: o suicídio não pode ser prevenido / Verdade: o suicídio pode ser evitado na maioria das vezes.
Mito: falar sobre suicídio pode estimular sua realização / Verdade: falar sobre suicídio é a melhor forma de acolher a pessoa e manejar o sofrimento e elucidar soluções saudáveis.
Diante de uma pessoa sob risco de suicídio não se deve julgar, condenar, banalizar, dar sermão ou usar frases vazias de incentivo. O que precisa ser feito é usar o momento oportuno (assim que se identificam os sinais) para falar sobre o assunto, se mostrando disponível para ouvir, não deixando a pessoa sozinha e incentivando-a a buscar ajuda profissional (inclusive apoiar, acompanhando a pessoa à consulta, se possível).
Onde buscar ajuda
No Brasil, encontram-se bases de apoio para o risco iminente de suicídio em:
Serviços de Saúde - CAPS e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da Família, Postos e Centros de Saúde).
Centro de Valorização da Vida (CVV) por telefone: 188 (ligação gratuita) ou no site www.cvv.org.br para chat ou e mail.
Emergência - SAMU 192, UPA, Pronto Socorro e Hospitais.
Assim que é identificada a ideação suicida, a pessoa deve iniciar um acompanhamento com profissionais de saúde mental, psicólogo e psiquiatra.
Os transtornos mentais não devem ser discriminados e o suicídio não deve ser um tabu. Precisamos ampliar a conscientização, o acolhimento e o cuidado aos que precisam. Ouvir “tem algo que eu possa fazer para te ajudar?” de forma sincera pode fazer a pessoa perceber que não está sozinha, e isso faz toda diferença.
É importante dizer que quem está em sofrimento, sofre todos os dias. Devemos estar atentos e sensíveis à dor do outro e ajudá-lo a buscar tratamento.
Fontes:
Crise suicida : avaliação e manejo / Neury José Botega. – Porto Alegre : Artmed,2015.
Mapa mundial do suicídio (OMS)
Campanha Setembro Amarelo
CVV | Centro de Valorização da Vida
CVV - Cartilha Falando Abertamente sobre o Suicídio
Música Pais e Filhos
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